História da música.

História da música é o estudo das origens e evolução da música ao longo do tempo. Como disciplina histórica insere-se na história da arte e no estudo da evolução cultural dos povos. Como disciplina musical, normalmente é uma divisão da musicologia e da teoria musical. Seu estudo, como qualquer área da história é trabalho dos historiadores, porém também é freqüentemente realizado pelos musicólogos. Este termo está popularmente associado à história da música erudita ocidental e freqüentemente afirma-se que a história da música se origina na música da Grécia antiga e se desenvolve através de movimentos artísticos associados às grandes eras artísticas de tradição européia (como a era medieval, renascimento, barroco, classicismo, etc.). Este conceito, no entanto é equivocado, pois essa é apenas a história da música no ocidente. A disciplina, no entanto, estuda o desenvolvimento da música em todas as épocas e civilizações, pois a música é um fenômeno que perpassa toda a humanidade, em todo o globo, desde a pré-história. Em 1957 Marius Schneider escreveu: “Até poucas décadas atrás o termo ‘história da música’ significava meramente a história da música erudita européia. Foi apenas gradualmente que o escopo da música foi estendido para incluir a fundação indispensável da música não européia e finalmente da música pré-histórica." Há, portanto, tantas histórias da música quanto há culturas no mundo e todas as suas vertentes têm desdobramentos e subdivisões. Podemos assim falar da história da música do ocidente, mas também podemos desdobrá-la na história da música erudita do ocidente, história da música popular do ocidente, história da música do Brasil, História do samba, história do fado e assim sucessivamente.

sábado, 2 de junho de 2007

Sobre Música


===A abordagem naturalista===
De acordo com a primeira abordagem, a música existe antes de ser ouvida; ela pode mesmo ter uma existência autônoma na natureza e pela natureza. Os adeptos desse conceito afirmam que, em si mesma, a música não constitui [[arte]], mas criá-la e expressá-la sim. Enquanto ouvir música possa ser um lazer e aprendê-la e entendê-la sejam fruto da disciplina, a música em si é um fenômeno natural e universal. A teoria da ressonância natural de [[Mersenne]] e Rameau vai neste sentido, pois ao afirmar a natureza matemática das relações harmônicas e sua influência na percepção auditiva da consonância e dissonância, ela estabelece a preponderância do natural sobre a prática formal. Consideram ainda que, por ser um fenômeno natural e intuitivo, os seres humanos podem executar e ouvir a música virtualmente em suas [[mente]]s sem mesmo aprendê-la ou compreendê-la. Compor, improvisar e executar são formas de arte que utilizam o fenômeno música.

Sob esse ponto de vista, não há a necessidade de comunicação ou mesmo da percepção para que haja música. Ela decorre de interações físicas e prescinde do humano.

===A abordagem funcional, artística e espiritual===

Para um outro grupo, a música não pode funcionar a não ser que seja percebida. Não há, portanto, música se não houver uma [[composição musical|obra musical]] que estabelece um diálogo entre o compositor e o ouvinte. Este diálogo funciona por intermédio de um ''gesto'' musical formante (dado pela [[notação musical|notação]]) ou formalizado (por meio da interpretação). Neste grupo há quem defina música como sendo "a arte de manifestar os afectos da alma, através do som" (Bona). Esta expressão informa as seguintes características: 1) música é arte: manifestação estética, mas com especial intenção à uma mensagem emocional; 2) música é manifestação, isto é, meio de comunicação, uma das formas de linguagem a ser considerada, uma forma de transmitir e recepcionar uma certa mensagem, entre indivíduos considerados, ou entre a emoção e os sentidos do próprio indivíduo que entona uma música; 3) utiliza-se do som, é a idéia de que o som, ainda que sem o silêncio pode produzir música, o silêncio individualmente considerado não produz música.

Para os adeptos dessa abordagem, a música só existe como manifestação humana. É atividade artística por excelência e possibilita ao compositor ou executante compartilhar suas emoções e sentimentos. Sob essa óptica, a música não pode ser um fenômeno natural, pois decorre de um desejo humano de modificar o mundo, de torná-lo diferente do estado natural. Em cada ponta dessa cadeia, há o homem. A música é sempre concebida e recebida por um ser humano. Neste caso, a definição da música, como em todas as artes, passa também pela definição de uma certa forma de [[comunicação]] entre os homens. Como não pode haver diálogo ou comunicação sem troca de signos, para essa vertente a música é um fenômeno [[Semiótica|semiótico]].

=== Definição negativa ===

Uma vez que é difícil obter um conceito sobre o que é a música, alguns tendem a definí-la pelo que não é:
*'''A música não é uma linguagem normal'''. A música não é capaz de significar da mesma forma que as línguas comuns. Ela não é um discurso verbal, nem uma língua, nem uma linguagem no sentido da [[linguística]] (ou seja uma dupla articulação [[signo lingüístico|signo]]/[[significado]]), mas sim uma linguagem peculiar, cujos modos de articulação signo musical/significado musical vêm sendo estudados pela [[Semiótica da Música]].

*'''A música não é ruído'''. O ruído pode ser um componente da música, assim como também é um componente (essencial) do [[som]]. Embora a ''Arte dos ruídos'' teorizasse a introdução dos sons da vida cotidiana na criação musical, o termo "ruído" também pode ser compreendido como desordem. E a música é uma organização, uma composição, uma construção ou recorte deliberado (se considerarmos os elementos componentes do [[acústica musical|som musical]]). A oposição que normalmente se faz entre estas duas palavras pode conduzir à confusão e para evitá-la é preciso se referir sempre à ideia de organização. Quando [[Edgard Varèse|Varèse]] e [[Pierre Schaeffer|Schaeffer]] utilizam ruídos de tráfego na [[música concreta]] ou algumas bandas de [[Rock industrial]], como o [[Einstürzende Neubauten]], utilizam sons de máquinas, devemos entender que o "ruído" selecionado, recortado da realidade e reorganizado se torna música pela intenção do artista.

*'''A música não é totalizante'''. Ela não tem o mesmo sentido para todos que a ouvem. Cada indivíduo usa a sua própria emotividade, sua imaginação, suas lembranças e suas raízes culturais para dar a ela um sentido que lhe pareça apropriado. Podemos afirmar que certos aspectos da música têm efeitos semelhantes em populações muito diferentes (por exemplo, a aceleração do ritmo pode ser interpretada frequentemente como manifestação de alegria), mas todos os detalhes, todas as sutilezas de uma obra ou de uma improvisação não são sempre interpretadas ou sentidas de maneira semelhante por pessoas de [[classe social|classes sociais]] ou de [[cultura]]s diferentes.

*'''A música não é sua representação gráfica'''. Uma [[partitura]] é um meio eficiente de representar a maneira esperada da execução de uma composição, mas ela só se torna música quando executada, ouvida ou percebida. A partitura pode ter méritos gráficos ou estéticos independentes da execução, mas não é, por si só, música.

===Definição social===

Por trás da multiplicidade de definições, se encontra um verdadeiro fato social, que coloca em jogo tanto os critérios históricos, quanto os geográficos. A música passa tanto pelos símbolos de sua escritura (notação musical), como pelos sentidos que são atribuídos a seu valor afetivo ou emocional. É por isso que, no ocidente, nunca parou de se estender o fosso entre as músicas do ouvido (próximas da terra e do [[folclore]] e dotadas de uma certa espiritualidade) e as músicas do olho (marcadas pela escritura, pelo discurso). Nossos valores ocidentais privilegiam a autenticidade autoral e procuram inscrever a música dentro de uma história que a liga, através da escrita, à memória de um passado idealizado. As músicas não ocidentais, como a [[África|africana]] apelam mais ao imaginário, ao [[mito]], à [[magia]] e fazem a ligação entre a potencialidade espiritual e corporal. O ouvinte desta música, bem como o da música folclórica ou popular ocidental participa diretamente da expressão do que ouve, através da dança ou do canto grupal, enquanto que um ouvinte de um concerto na tradição erudita assume uma atitude contemplativa que quase impede sua participação corporal, como se só a sua mente estivesse presente ao concerto. O desenvolvimento da notação musical e a constituição artificial do sistema de [[Temperamentos musicais|temperamento]]s consolidou na música, o dualismo corpo-mente típico do [[racionalismo]] [[René Descartes|cartesiano]]. E de tal forma esse movimento se fortaleceu que mesmo a música popular ocidental, ainda que menos dualista, se rendeu à sistematização, na qual se mantém até hoje.

====Música - um fenômeno social====

As práticas musicais não podem ser dissociadas do contexto cultural. Cada cultura possui seus próprios tipos de música totalmente diferentes em seus estilos, abordagens e concepções do que é a música e do papel que ela deve exercer na sociedade. Entre as diferenças estão: a maior propensão ao humano ou ao sagrado; a música funcional em oposição à música como arte; a concepção teatral do [[Concerto]] contra a participação festiva da música folclórica e muitas outras.

Falar da música de um ou outro grupo social, de uma região do globo ou de uma época, faz referência a um tipo específico de música que pode agrupar elementos totalmente diferentes ([[música tradicional]], [[música erudita|erudita]], [[música popular|popular]] ou [[música experimental|experimental]]). Esta diversidade estabelece um compromisso entre o músico (compositor ou intérprete) e o público que deve adaptar sua escuta a uma cultura que ele descobre ao mesmo tempo que percebe a obra musical.

Desde o início do [[século XX]], alguns musicólogos estabeleceram uma "antropologia musical", que tende a provar que, mesmo se alguém tem um certo prazer ao ouvir uma determinada obra, não pode vivê-la da mesma forma que os membros das [[Grupo étnico|etnias]] aos quais elas se destinam. Nos círculos acadêmicos, o termo original para estudos da música genérica foi "musicologia comparativa", que foi renomeada em meados do [[século XX]] para "[[etnomusicologia]]", que apresentou-se, ainda assim, como uma definição insatisfatória.

Para ilustrar esse problema cultural da representação das obras musicais pelo ouvinte, o musicólogo [[Jean-Jacques Nattiez]] (''Fondements d’une sémiologie de la musique'' [[1976]]) cita uma história relatada por [[Roman Jakobson]] em uma conferência de G. Becking, linguista e musicólogo, pronunciada em [[1932]] no Círculo Línguístico de [[Praga]]:

{{quote2|Um indígena africano toca uma [[melodia]] em sua flauta de [[bambu]]. O músico europeu terá muito trabalho para imitar fielmente a melodia exótica, mas quando ele consegue enfim determinar as alturas dos sons, ele esta certo de ter reproduzido fielmente a peça de música africana. Mas o indígena não está de acordo pois o europeu não prestou atenção suficiente ao timbre dos sons. Então o indígena toca a mesma ária em outra flauta. O europeu pensa que se trata de uma outra melodia, porque as alturas dos sons mudaram completamente em razão da construção do outro instrumento, mas o indigena jura que é a mesma ária. A diferença provém de que o mais importante para o indígena é o timbre, enquanto que para o europeu é a altura do som. O importante em música não é o dado natural, não são os sons tais como são realizados, mas como são intencionados. O indígena e o europeu ouvem o mesmo som, mas ele tem um valor totalmente diferente para cada um, porque as concepções derivam de dois sistemas musicais inteiramente diferentes; o som em música funciona como elemento de um sistema. As realizações podem ser múltiplas, o acústico pode determiná-las exatamente, mas o essencial em música é que a peça possa ser reconhecida como idêntica.|Nattiez}}

==História da música==


{{Ver artigo principal|[[História da música]]}}

'''História da música''' é o estudo das origens e evolução da [[música]] ao longo do [[tempo]]. Como disciplina [[História|histórica]] insere-se na [[história da arte]] e no estudo da evolução [[cultura|cultural]] dos povos. Como disciplina musical, normalmente é uma divisão da [[musicologia]] e da [[teoria musical]]. Seu estudo, como qualquer área da história é trabalho dos [[historiador]]es, porém também é freqüentemente realizado pelos musicólogos.

Este termo está popularmente associado à história da [[música erudita]] [[Ocidente|ocidental]] e freqüentemente afirma-se que a história da música se origina na música da [[Grécia antiga]] e se desenvolve através de movimentos artísticos associados às grandes eras artísticas de tradição [[Europa|européia]] (como a [[era medieval]], [[renascimento]], [[barroco]], [[classicismo]], etc.). Este conceito, no entanto é equivocado, pois essa é apenas a história da música no ocidente. A disciplina, no entanto, estuda o desenvolvimento da música em todas as épocas e civilizações, pois a música é um fenômeno que perpassa toda a humanidade, em todo o globo, desde a [[pré-história]].
Em [[1957]] Marius Schneider escreveu: “Até poucas décadas atrás o termo ‘história da música’ significava meramente a história da música erudita européia. Foi apenas gradualmente que o escopo da música foi estendido para incluir a fundação indispensável da música não européia e finalmente da música pré-histórica."

Há, portanto, tantas histórias da música quanto há [[cultura]]s no mundo e todas as suas vertentes têm desdobramentos e subdivisões. Podemos assim falar da história da música do ocidente, mas também podemos desdobrá-la na história da música erudita do ocidente, história da música popular do ocidente, história da música do Brasil, História do samba, história do fado e assim sucessivamente.

==Teoria musical==

{{Ver artigo principal|[[Teoria musical]]}}
''Teoria musical'' é o nome dado a qualquer sistema destinado a analisar, compreender e se comunicar ''a respeito'' da música. Assim como em qualquer área do conhecimento, a teoria musical possui várias escolas, que podem possuir conceitos divergentes. A própria divisão da teoria em áreas de estudo não é consenso, mas de forma geral, qualquer escola possui ao menos:
*[[análise musical]], que estuda os elementos do som e estruturas musicais e também as [[forma musical|formas musicais]].
*[[estética musical]], que inclui a divisão da música em [[Música#Gêneros musicais|gêneros]] e a [[Música#Crítica musical|Crítica musical]].
*[[Notação musical]].

===Análise musical===

[[Imagem:Orchestra.jpg|thumb|250px|right|[[Violoncelo|Violoncelistas]] da Orquestra Sinfônica do Paraná]]
Apesar de toda a discussão já apresentada, a música quando composta e executada deliberadamente é considerada arte por qualquer das facções. E como arte, é criação, representação e comunicação. Para obter essas finalidades, deve obedecer a um [[métodos de composição|método de composição]], que pode variar desde o mais simples (a pura [[sorte]] na [[música aleatória]]), até os mais complexos. Pode ser composta e escrita para permitir a execução idêntica em várias ocasiões, ou ser [[improvisação|improvisada]] e ter uma existência efêmera. A música dos [[pigmeu]]s do [[Gabão]], o [[Rock and roll]], o [[Jazz]], a [[música sinfônica]], cada composição ou execução obedece a uma [[estética]] própria, mas todas cumprem os objetivos artísticos: criar o desconhecido a partir de elementos conhecidos; manipular e transformar a natureza; moldar o futuro a partir do presente.

Qualquer que seja o método e o objetivo estético, o material sonoro a ser usado pela música é tradicionalmente dividido de acordo com três elementos organizacionais: '''[[melodia]]''', '''[[harmonia]]''' e '''[[ritmo]]'''. No entanto, quando nos referimos aos aspectos do som nos deparamos com uma lista mais abrangente de componentes: '''[[altura (música)|altura]]''', '''[[timbre]]''', '''[[intensidade]]''' e '''[[duração]]'''. Eles se combinam para criar outros aspéctos como: estrutura, textura e estilo, bem como a localização espacial (ou o movimento de sons no espaço), o gesto e a dança.

Na base da música, dois elementos são fundamentais: O [[som]] e o [[tempo]]. Tudo na música é função destes dois elementos. É comum na análise musical fazer uma analogia entre os sons percebidos e uma figura tridimensional. A [[sinestesia]] nos permite "ver" a música como uma construção com comprimento, altura e profundidade.

O [[ritmo]] é o elemento de organização, frequentemente associado à dimensão horizontal e o que se relaciona mais diretamente com o tempo ([[duração]]) e a [[intensidade]], como se fosse o contorno básico da música ao longo do tempo. Ritmo, neste sentido, são os sons e silêncios que se sucedem temporalmente, cada som com uma duração e uma intensidade próprias, cada silêncio (a intensidade nula) com sua duração. O [[silêncio]] é, portanto, componente da música, tanto quanto os sons. O ritmo só é percebido como contraste entre som e silêncio ou entre diversas intensidades sonoras. Pode ser periódico e obedecer a uma pulsação definida ou uma estrutura métrica, mas também pode ser livre, não periódico e não estruturado ([[arritmia (música)|arritmia]]). Também é possível que diversos ritmos se sobreponham na mesma composição ([[polirritmia]]). Essas são opções de composição. Enfim é interessante lembrar que, embora pequenas variações de intensidade de uma nota à seguinte sejam essenciais ao ritmo, a variação de intensidade ao longo da música é antes de tudo um componente expressivo, a [[dinâmica musical]].
[[Imagem:Beijing-SA2.jpg|thumb|250px|left|Músico de rua em [[Pequim]]]]

A segunda organização pode ser concebida visualmente como a dimensão vertical. Daí o nome [[altura (música)|altura]] dado a essa característica do som. O mais agudo, de maior [[freqüência]], é dito mais alto. O mais grave é mais baixo. O elemento organizacional associado às alturas é a [[melodia]]. A melodia é definida como a sucessão de alturas ao longo do tempo, mas estas alturas estão inevitavelmente sobrepostas à duração e intensidade que caracterizam o ritmo e portanto essas duas estruturas são indissociáveis. Outra metáfora visual que freqüentemente é utilizada é a da cor. Cada altura representaria uma cor diferente sobre o desenho rítmico. Não é à toa que muitos termos utilizados na descrição das alturas, [[escala musical|escalas]] ou melodias também são usados para as cores: [[tom]], [[Música tonal|tonalidade]], [[cromatismo]]. Também não deve ser fruto do acaso o fato de que tanto as cores como os sons são caracterizados por fenômenos físicos semelhantes: as alturas são variações de freqüências em [[onda]]s sonoras (mecânicas). As cores são variações de freqüência em ondas [[luz|luminosas]] ([[Electromagnetismo|eletromagnéticas]]). Assim como o ritmo, a melodia pode seguir estruturas definidas como escalas e tonalidades ([[música tonal]]), que determinam a forma como a melodia estabelece tensão e repouso em torno de um centro tonal. O compositor também pode optar por criar [[melodias]] em que a [[tensão]] e o [[repouso]] não decorrem de relações hierárquicas entre as notas ([[música atonal]]).

A terceira [[dimensão]] é a [[harmonia]] ou [[polifonia]]. Visualmente pode ser considerada como a profundidade. Temporalmente é a execução simultânea de várias melodias que se sobrepôem e se misturam para compor um som muito mais complexo, como se cada melodia fosse uma camada e a harmonia fosse a sobreposição de todas essas camadas. A [[harmonia]] possui diversas possibilidades: uma [[melodia]] principal com um acompanhamento que se limite a realçar sua [[progressão harmônica]]; duas ou mais melodias independentes que se entrelaçam e se completam harmonicamente; sons aleatórios que, nos momentos que se encontram formam acordes; e outras tantas em que sons se encontram ao mesmo tempo. O termo [[harmonia]] não é absoluto. Manipula o conjunto das [[melodias]] simultâneas de modo a expressar a vontade do [[compositor]]. As [[dissonância]]s também fazem parte da harmonia tanto quanto as [[consonância]]s. Adicionalmente, pode-se criar [[harmonias]] que obedeçam a duas ou mais [[tonalidades]] simultaneamente ([[politonalismo]] - usada com freqüência em composições de [[Heitor Villa-Lobos|Villa-Lobos]]).

Não podemos esquecer que cada [[som]] tocado em uma música tem também seu [[timbre]] característico. Definido da forma mais simples o [[timbre]] é a identidade sonora de uma [[voz]] ou [[instrumento musical]]. É o [[timbre]] que nos permite identificar se é um [[piano]] ou uma [[flauta]] que está tocando, ou distinguir a voz de dois [[Vocal|cantores]]. Acontece que o [[timbre]], por si só, é também um conjunto de elementos seqüenciais e simultâneos. Uma série infinita de [[freqüências]] sobrepostas que geram uma [[forma de onda]] composta pela freqüência [[fundamental]] e seu [[espectro sonoro]], formado por [[Fundamental ausente|sobretons]] ou [[harmônico]]s. E o timbre também evolui temporalmente em intensidade obedecendo a uma figura chamada [[envelope (modulação)|envelope]]. É como se o [[timbre]] reproduzisse em escala temporal muito reduzida o que as [[notas]] produzem em maior [[escala]] e cada [[nota]] possuísse em seu próprio tecido uma [[melodia]], um [[ritmo]] e uma [[harmonia]] próprias.

Segundo o tipo de música, algumas dessas dimensões podem predominar. Por exemplo, o [[ritmo]] bem marcado e fortemente periódico tem a primazia na [[música tradicional]] dos povos [[África|africanos]]. Na maior parte das culturas [[Oriente|orientais]], bem como na música tradicional e popular do ocidente, é a [[melodia]] que representa o valor mais destacado. A [[harmonia]], por sua vez, é o ideal mais elevado da [[música erudita]] ocidental.

Estes elementos nem sempre são claramente reconhecíveis. Onde estará o [[ritmo]] ou a melodia no som de uma serra elétrica incluída em uma [[canção]] de rock industrial ou em uma [[composição]] [[música eletroacústica|eletroacústica]]? Mas se considerarmos apenas o jogo dos [[sons]] e do [[tempo]], a organização do seqüencial e do simultâneo e a seleção dos [[timbres]], a música nestas [[composições]] será tão reconhecível quanto a de uma [[cantata]] [[música barroca|barroca]].

===Gêneros musicais===

{{Ver artigo principal|[[Gênero musical]]}}
Assim como existem várias definições para música, existem muitas divisões a agrupamentos da música em gêneros, estilos e formas. Dividir a música em gêneros é uma tentativa de classificar cada composição de acordo com critérios objetivos que não são sempre fáceis de definir.

Uma das divisões mais freqüentes separa a música em grandes grupos:
* [[Música erudita]] - a música tradicionalmente dita como "culta" e no geral, mais elaborada. Seus adeptos consideram que é feita para durar muito tempo e resistir a [[moda]]s e tendências. Em geral exige uma atitude contemplativa e uma audição concentrada. Alguns consideram que seja uma forma de música superior a todas as outras e que seja a real arte musical. No entanto esse pensamento é tipicamente ocidental, elitista, obsoleto e não leva em conta a imensa variedade de formas e funções da música nos mais diversos grupos sociais. Os gêneros eruditos são divididos sobretudo de acordo com o períodos em que foram compostas ou pelas características predominantes.
* [[Música popular]] - associada a movimentos culturais populares. Conseguiu se consolidar apenas após a [[urbanização]] e [[industrialização]] da [[sociedade]] e se tornou o tipo musical icônico do século XX. Se apresenta atualmente como a música do dia-a-dia, tocada em shows e festas, usada para [[dança]] e socialização. Segue tendências e [[modismo]]s e muitas vezes é associada a valores puramente comerciais, porém, ao longo do [[tempo]], incorporou diversas tendências vanguardistas e inclui estilos de grande [[sofisticação]]. É um tipo musical frequentemente associado a elementos extra-musicais, como textos (letra de canção), padrões de comportamento e ideologias. É subdividida em incontáveis gêneros distintos, de acordo com a instrumentação, características musicais predominantes e o comportamento do grupo que a pratica ou ouve.
* [[Música folclórica]] ou [[música tradicional|tradicional]] - associada a fortes elementos culturais de cada grupo social. Tem caráter predominantemente rural ou pré-urbano. Normalmente são associadas a festas folclóricas ou rituais específicos. Pode ser funcional (como canções de plantio e colheita ou a música das rendeiras e lavadeiras). Normalmente é transmitida por imitação e costuma durar décadas ou séculos. Incluem-se neste gênero as [[cantiga de roda|cantigas de roda]] e de [[cantiga de ninar|ninar]].
* [[música religiosa]], utilizada em [[liturgia]]s, tais como [[missa]]s e [[funeral|funerais]]. Também pode ser usada para [[adoração]] e [[oração]] ou em diversas festividades religiosas como o [[natal]] e a [[páscoa]], entre outras. Cada religião possui formas específicas de música religiosa, tais como a [[música sacra]] [[igreja católica|católica]], o [[gospel]] das [[igreja evangélica|igrejas evangélicas]], a música [[judaísmo|judaica]], os tambores do [[candomblé]] ou outros cultos [[África|africanos]], o canto do [[muezim]], no [[Islamismo]] entre outras.

Cada uma dessas divisões possui centenas de subdivisões. Gêneros, subgêneros e estilos são usados numa tentativa de classificar cada música. Em geral é possível estabelecer com um certo grau de acerto o gênero de cada peça musical, mas como a música não é um fenômeno estanque, cada músico é constantemente influenciado por outros gêneros. Isso faz com que subgêneros e fusões sejam criados a cada dia. Por isso devemos considerar a classificação musical como um método útil para o estudo e comercialização, mas sempre insuficiente para conter cada forma específica de produção. A divisão em gêneros também é contestada assim como as definições de música porque cada composição ou execução pode se enquadrar em mais de um gênero ou estilo e muitos consideram que esta é uma forma artificial de classificação que não respeita a diversidade da música. Ainda assim, a classificação em gêneros procura agrupar a música de acordo com características em comum. Quando estas características se misturam, subgêneros ou estilos de fusão são utilizados em um processo interminável.

Os estilos musicais ao entrar em contato entre si produzem novos estilos e as culturas se misturam para produzir gêneros transnacionais. O [[bluegrass]] dos [[Estados Unidos da América]], por exemplo tem elementos vocais e instrumentais das tradições anglo-irlandesas, escocesas, alemãs e afro-americanas que só podem ser fruto da produção do século XX.

Outra forma de encarar os gêneros é considerá-los como parte de um conjunto mais abrangente de manifestações culturais. Os gêneros são comumente determinados pela tradição e por suas apresentações e não só pela música de fato. O [[Rock and roll]], por exemplo, possui dezenas de subgêneros, cada um com características musicais diferentes mas também pelas roupas, cabelos, ornamentação corporal e danças, além de variações de comportamento do público e dos executantes. Assim, uma canção de [[Elvis Presley]], um [[heavy metal]] ou uma canção [[punk]], embora sejam todas consideradas formas de [[rock]], representam diversas culturas musicais diferentes.

Também a música erudita, folclórica ou religiosa possuem comportamentos e rituais associados. Ainda que o mais comum seja compreender a música erudita como a acústica e intencionada para ser tocada por indivíduos, muitos trabalhos que usam samples, gravações e ainda sons mecânicos, não obstante, são descritas como eruditas, uma vez que atendam aos princípios estéticos do erudito. Por outro lado, uma trecho de uma obra erudita como os "Quadros de uma Exposição" de [[Modest Mussorgsky|Mussorgsky]] tocado por [[Emerson, Lake & Palmer|Emerson, Lake and Palmer]] se torna [[Rock progressivo]] não só por que houve uma mudança de instrumentação, mas também porque há uma outra atitude dos executantes e da platéia.

====Métodos de composição====
{{Ver artigo principal|[[Métodos de composição]]}}
Cada gênero define um conceito e um método de composição, que passa pela definição de uma forma, uma instrumentação e também um "processo" que pode criar [[som|sons]] musicais. A gama de métodos é muito grande e vai desde a simples seleção de sons naturais, passando pela composição tradicional que utiliza os sistemas de escalas, tonalidades e notação musical e varia até a música aleatória em que sons são escolhidos por programas de [[computador]], obedecendo a [[algoritmo]]s programados pelo compositor.

===Crítica musical===

''Crítica musical'' é uma prática utilizada, sobretudo pelos meios de comunicação para comentar o valor estético de uma obra, intérprete ou conjunto musical. Um [[texto crítico]] freqüentemente refere-se a um [[espetáculo]] ou [[álbum musical|álbum]] na época de seu lançamento. O assunto é complexo e polêmico, pois, desde os tempos em que a sua prática era levada a cabo por curiosos freqüentadores da vida social e, conseqüentemente, dos espetáculos musicais, nunca se tornou claro qual o seu objetivo principal, nem mesmo quais os destinatários - o público, o artista ou ambos.

Ao longo do século XX, notou-se que, mesmo sem finalidade ou utilidade aparente, a crítica musical passou a despertar forte curiosidade nos que não freqüentavam os espetáculos musicais e assim se apropriavam dos pontos de vista emanados nas críticas. Com o estabelecimento do comércio musical, os músicos e produtores musicais, em nome da captura das platéias e dos compradores, passaram a manipular seu conteúdo com diversos tipos de favorecimento aos críticos. Com a vulgarização desta prática, a isenção da crítica passou a ser questionada. Ainda assim, ela consegue influenciar o público e uma crítica em um veículo respeitado pode, dentro de certos limites, promover o sucesso ou o fracasso dos artistas, álbuns e espetáculos.

A [[indústria cultural]] além de lançar tendências através de bandas pagas, agrupadas por redes de comunicação, também faz uso da crítica para vender sua mercadoria com artigos pagos, manipulação dos meios de comunição e a massificação de determinados estilos musicais. A prática de comprar a execução de uma música em horários de grande audiência é chamada no Brasil de "jabaculê" ou simplesmente "jabá".

==Educação musical==

{{ver artigo principal|[[Educação Musical]]}}

''Educação musical'' é o conjunto de práticas destinadas a transmitir a teoria e a prática da música de uma geração a outra. Inclui:
*'''[[Musicalização]]''' - métodos destinados a iniciar o estudante na prática [[vocal]] ou instrumental antes mesmo do ensino da teoria musical. Há muitos métodos de [[musicalização]] e os mais conhecidos são o [[Método Orff]], [[método Dalcroze|Dalcroze]] e [[Método Kodály|Kodály]].
*'''[[Prática instrumental]]''' - ensino e treinamento de técnicas específicas de cada instrumento
*'''[[Prática vocal]]''' - ensino e treinamento de técnicas vocais. Inclui o [[Grupo coral|canto coral]] e o [[canto orfeônico]].
*'''[[Teoria musical]]''' - ensino da teoria musical, [[escala musical|escalas]], [[rítmica]], harmonia e [[notação musical]].
*'''História da música'''.
*'''Percepção auditiva''' - treinamento da percepção melódica (alturas e intervalos) e rítmica.
*'''Composição e regência''' - Curso superior destinado à formação de compositores e [[Maestro|regentes]].

A educação musical acontece na [[escola]] junto às demais disciplinas, normalmente como parte da [[educação artística]], no [[Conservatório de música]], escola especializada no ensino de música e artes cênicas e na [[Universidade]].

==Actuação==

[[Imagem:Bob-Marley-in-Concert_Zurich_05-30-80.jpg|thumb|left|250px|O cantor [[Jamaica|jamaicano]] [[Bob Marley]] durante uma apresentação em Zurich (Suíça) em [[1980]]]]
A música só existe quando executada ou reproduzida, por isso a atuação é seu aspecto mais importante. Enquanto não executada a música é apenas potencial. É na execução que ela se torna um existente. A atuação pode se extender da improvisação de solos às bem organizadas apresentações repletas de rituais, como o moderno concerto clássico, o concerto de rock ou festividades religiosas. O executante é o músico, que pode ser um [[instrumentista]] ou [[Vocal|cantor]].

===Solos e conjuntos===

A execução pode ser feita individualmente e neste caso é chamada de [[solo (música)|solo]], palavra que vem do italiano e significa "sozinho". O extremo oposto é a execução em [[conjunto]]s vocais, instrumentais ou mistos.

Muitas culturas mantêm fortes tradições nas atuações de solos como, por exemplo, na música clássica [[Índia|indiana]], enquanto que outras, como em [[Bali]], têm ênfase nas atuações de conjuntos. Mas o mais comum é uma uma mistura das duas. Conjuntos podem ter solistas permanentes (como o vocalista ou guitarrista principal da banda de rock) ou ocasionais (como o solista do concerto erudito).

A variedade de conjuntos existentes é imensa e as combinações possíveis são ilimitadas. É comum classificar os grupos pelo número de participantes: duos, trios, quartetos, quintetos, sexteto, heptetos e octetos são os mais comuns. Grupos com mais de oito executantes são classificados por sua função: [[coro]]s, [[grupo de câmara|grupos de câmara]], [[banda]]s, [[orquestra]]s. Certos grupos têm um nome específico, como o [[gamelão]], conjunto instrumental típico da música de [[Bali]]. Outros podem partilhar o nome com outros conjuntos e neste caso são identificados geralmente pelo gênero: Orquestra sinfônica, orquestra de [[baile]], banda de [[blues]], banda de [[jazz]].

===O evento musical===

A execução musical pode ocorrer em um contexto íntimo ou mesmo solitário, mas é comum que ocorra dentro de um evento ou espetáculo. Entre os eventos mais comuns estão as festas, [[concerto]]s, [[show]]s, [[ópera]]s, espetáculos de [[dança]], entre outros. Cada evento tem características próprias e normalmente obedece a um ritual específico. Eventos mais teatrais como o concerto e a ópera exigem do público uma atitude contemplativa e silenciosa enquanto que um show de rock ou uma roda de [[samba]] presumem a participação ativa do público na forma do canto e dança.

====Festivais de música====

Além dos próprios shows e eventos feitos por algumas bandas e grupos isolados, existem também os [[festival de música|festivais de música]], onde são apresentados diversos grupos e artistas, na maioria das vezes com o mesmo gênero, mas muitas vezes com gêneros diversos. Podem ocorrer uma única vez ou periodicamente. Um dos festivais mais conhecidos foi o de [[Woodstock]], tradicional festival de rock nos [[Estados Unidos da América|EUA]]. Alguns festivais como o [[Live 8]] têm abrangência global, outros são limitados à região em que ocorrem, como os brasileiros [[Chivas Jazz Festival]], [[Abril Pro Rock]] e [[Pré Amp|Festival Pré Amp]] e o português [[Super Bock Super Rock]]. Em alguns casos, um evento planejado para ter abrangência local ganha importância e é extrapolado para outras localidades, como o famoso [[Rock in Rio]] que após três edições no [[Rio de Janeiro]] passou a ter edições no exterior, como a de [[2004]] em [[Lisboa]] e as edições previstas para [[2006]] e [[2007]] em Lisboa e [[Sydney]].

Existem muitos festivais de música que celebram gêneros particulares de música. Um dos melhores exemplos é o Festival de [[Bayreuth]] que se dedica exclusivamente às operas de [[Richard Wagner]]. Também podem ser considerados festivais eventos que englobam outras manifestações, como o [[Carnaval]] do [[Brasil]] ou o [[Mardi-Gras]] em [[Nova Orleans]].

Em Belo Horizonte-MG é realizado anualmente um festival chamado Pop Rock Brasil, desde a década de 80, onde se chamava Rock Brasil. Geralmente se apresentam mais de uma dezena de bandas em dois ou três dias de espetáculo, contando com bandas nacionais em sua imensa maioria e com algumas apresentações internacionais como Soul Asylum, Live, New Order, The Rasmus, Black Eyed Peas, etc. Esse festival é promovido pela Radio 98FM de BH. Em 2006, a Mix FM entrou na área e lançou um festival parecido, cuja primeira aparição se chamou Pop Rock Mix Festival (esse somente com nacionais).

===Composição audiovisual===

'''Composição audiovisual''' é um tipo específico de composição musical que envolve recursos cênicos ou visuais, tais como a música para dança, a ópera, o [[videoclip]], a [[banda sonora]] (ou trilha sonora), entre outras.

====Banda sonora====

{{Ver artigo principal|[[Banda sonora]]}}
Chama-se '''Banda sonora''' ou '''trilha sonora''' ao conjunto das peças musicais usadas num [[filme]]. Pode incluir música original, criada de propósito para o filme, ou outras peças musicais, canções e excertos de obras musicais anteriores ao filme.

Nenhum comentário:

CONTATOS:

MSN: rdg_ita@hotmail.com ENDEREÇO DE E-MAIL:rdg_ita@yahoo.com.br TELEFONE:(33)3231-2806