História da música.

História da música é o estudo das origens e evolução da música ao longo do tempo. Como disciplina histórica insere-se na história da arte e no estudo da evolução cultural dos povos. Como disciplina musical, normalmente é uma divisão da musicologia e da teoria musical. Seu estudo, como qualquer área da história é trabalho dos historiadores, porém também é freqüentemente realizado pelos musicólogos. Este termo está popularmente associado à história da música erudita ocidental e freqüentemente afirma-se que a história da música se origina na música da Grécia antiga e se desenvolve através de movimentos artísticos associados às grandes eras artísticas de tradição européia (como a era medieval, renascimento, barroco, classicismo, etc.). Este conceito, no entanto é equivocado, pois essa é apenas a história da música no ocidente. A disciplina, no entanto, estuda o desenvolvimento da música em todas as épocas e civilizações, pois a música é um fenômeno que perpassa toda a humanidade, em todo o globo, desde a pré-história. Em 1957 Marius Schneider escreveu: “Até poucas décadas atrás o termo ‘história da música’ significava meramente a história da música erudita européia. Foi apenas gradualmente que o escopo da música foi estendido para incluir a fundação indispensável da música não européia e finalmente da música pré-histórica." Há, portanto, tantas histórias da música quanto há culturas no mundo e todas as suas vertentes têm desdobramentos e subdivisões. Podemos assim falar da história da música do ocidente, mas também podemos desdobrá-la na história da música erudita do ocidente, história da música popular do ocidente, história da música do Brasil, História do samba, história do fado e assim sucessivamente.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Erasmo Carlos

"...eu gosto muito quando regravam músicas minhas. Eu nem me importo que pensem que ela é do cara.", Erasmo Carlos.



Se existe um artista brasileiro que merece os maiores adjetivos ele se chama Erasmo Carlos. Sua importância nunca pode ser resumida à parceria mais que vencedora com Roberto Carlos. Erasmo Carlos é o nosso maior roqueiro vivo (seu único concorrente, Raul Seixas, não está mais entre nós), ousou bastante especialmente a partir dos anos 70 em discos como Carlos, Erasmo (que tinha uma música de apologia a uma certa erva com o sugestivo nome de... Maria Joana), Sonhos e Memórias e a banda dos Contentes e ao contrário de seu parceiro mais famoso que como todo bom rei vive mais isolado, sempre deu a cara a tapa. Na primeira metade dos anos 80 Erasmo Carlos se tornou cantor pop de sucesso e vendeu milhares de cópias de discos como Mulher (sexo Frágil), Amar Pra Viver Ou Morrer De Amor e Buraco negro. Depois dessa fase ele se retraiu, gravou menos do que deveria, mas sempre manteve a parceria com Roberto Carlos.
Site Oficial



Erasmo Carlos
Talvez a chave para se entender melhor Erasmo Carlos como pessoa e artista seja o projeto "Erasmo Convida". O volume 1 foi lançado em 1980 e trazia o cantor e compositor ao lado de Tim Maia, Jorge Ben, Rita Lee, Nara Leão, Roberto Carlos, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros mais. Ali ficava claro como as músicas da dupla eram abrangentes, adaptando-se aos mais diversos intérpretes e principalmente se comprovava além do prestígio, o carinho que toda a MPB nutria pelo Tremendão. Esse carinho pôde ser renovado agora em 2007 quando finalmente Erasmo Carlos Convida volume 2 foi lançado. Dessa vez temos Erasmo cantando com ídolos de juventude (Os Cariocas), colegas de geração de primeira grandeza que ficaram de fora do volume 1 (Chico Buarque e Milton Nascimento) e outros que na época ainda estavam despontando (Djavan e Simone). Some aí seus herdeiros dos anos 80 (Lulu Santos, Kid Abelha) e 90 (Skank e Los Hermanos - cuja Sábado Morto pode ficar como o último registro do quarteto) além de Marisa Monte, Adriana Calcanhotto e Zeca Pagodinho e o resultado é um disco que não perde em nada para o volume 1 e ainda ajuda a colocar Erasmo Carlos na mídia pelo que interessa: a sua música.

Há tempos estávamos querendo falar com o Tremendão e quis o destino que o papo rolasse num dia 5 de junho, quando o "nosso amigo" completava 66 anos. O resultado está logo aí embaixo.


Entrevista
Porque o Erasmo Convida volume 2 demorou tanto para sair? Há tempos que te pediam um novo volume não?


Erasmo Carlos
Desde que eu gravei o primeiro pediam para eu fazer o segundo. Mas eu sempre falava pra deixar rolar, porque a idéia nunca foi a de fazer alguma coisa oportunista, pra faturar em cima. Tanto que nem show especial a gente vai fazer. Ele é só um projeto feito pelo prazer de juntar todo esse pessoal. Já que se você juntar os dois volumes ali estão representados alguns dos maiores artistas do século dentro da nossa música. Mas como eu te disse, apesar da cobrança eu fui deixando o tempo passar, até que há uns 5 anos eu encontrei o Lulu Santos no aeroporto e disse pra ele que estava pensando em retomar o projeto do "Erasmo Convida". Ele na hora disse que estava dentro, que iria fazer o Coqueiro Verde e que o arranjo já estava na sua cabeça.




Você disse numa entrevista que para fazer o primeiro Erasmo Convida simplesmente pegou o telefone e chamou o pessoal. Foi assim dessa vez também?

Dessa vez tiveram alguns critérios de escolha. Antes de tudo fomos atrás dos que teoricamente não participaram do primeiro volume, que foi o caso do Chico Buarque, Simone, Milton Nascimento, Os Cariocas... que são pessoas que eu amo e não puderam por alguma razão estar naquele disco. Outro critério foi o de não repetir nem convidados e nem músicas para evitar comparações. Também fomos atrás de pessoas com as quais eu já tinha afinidade, como o Kid Abelha e o Skank que já tinham gravado músicas minhas. Eu já tinha gravado com a Adriana Calcanhotto, e composto com a Marisa Monte. O Marcelo Camelo dos Los Hermanos também já tinha feito uma música comigo que entrou no filme "O casamento de Romeu e Julieta".

Os arranjos partiram dos convidados?


Erasmo Carlos

Nesse projeto eu nunca ponho a mão no arranjo. Eu deixo rolar o que o convidado sente porque se eu for botar a minha mão, vou acabar escravo da gravação original. Tanto que às vezes eu me assustei ao ver a maneira que alguns enxergam a música (risos), mas tudo bem, eu tô dentro.

Cada artista escolheu a música que quis?

Alguns trouxeram, para outros eu dei algumas sugestões. Os Los Hermanos por exemplo escolheram o Sábado Morto e o Chico Buarque foi quem chegou com Olha. Já o Cama e Mesa fui eu que sugeri pro Zeca Pagodinho assim como Emoções que escolhi porque queria ouvi-la com o Milton Nascimento. A Simone já estava cantando Vou Ficar Nu pra chamar sua atenção nos shows dela e a escolha foi natural. E assim foi indo.

Você pensa em fazer um terceiro volume algum dia?

Bicho, quando eu tiver uns 150 anos (risos). Eu acho que aí sim seria muito oportunismo da minha parte. Eu não vou dizer que nunca vou fazer mas talvez eu faça de um outro jeito talvez com o Erasmo Carlos só de compositor e não cantando.

Hoje em dia os seus discos passam por grande reavaliação e percebe-se que os mais jovens têm um grande respeito pela sua obra e seus discos. Queria que você falasse um pouco sobre esse momento e como se sente quando um músico ou fã mais jovem diz adorar um discos feitos há mais de 30 anos como Carlos, Erasmo ou Sonhos e Memórias.

Erasmo Carlos
Eu fico feliz e é um motivo de reflexão. Pô, quantas músicas são feitas todos os dias e nesse turbilhão de coisas, um monte de canções que a gente faz vão ficando para trás sem nunca serem descobertas. Os clássicos para se tornarem clássicos de fato dependem muito das regravações. Por isso eu gosto muito quando regravam músicas minhas. Eu nem me importo que pensem que ela é do cara (risos). O Léo Jaime fez muito sucesso com Gatinha Manhosa fim dos anos 80 e ele falou pra mim que o pessoal chegava e dizia: "Pô Léo, bacana essa sua música" e ele respondia "Essa música é do Erasmo Carlos e do Roberto Carlos pô" (risos), mas eu não me importo com isso não.

Por falar no Carlos, Erasmo (nota - o disco de 1971 considerado pela crítica o seu melhor trabalho) fale um pouco desse trabalho para a gente. Algo que chama a atenção é a relação dos músicos que tocam nele...

Pô ali estão quase todos os Mutantes, o (guitarrista) Lanny Gordin, o Taiguara toca piano no disco e não está com o nome na ficha. Teve a Caribean Steel Band e foi muito legal gravar com tambores de lata. O estúdio ficava uma festa com esse pessoal todo.

Nós conferimos o seu show com o "Clube do Balanço" na Virada cultural. Como é subir ao palco com esse pessoal mais novo?

Eu adoro tocar com o Clube do Balanço, quando eu subo no palco com eles eu fico transtornado e me torno apenas mais um integrante do grupo. É legal que na minha carreira agora eu tenho várias facetas. Eu faço shows de Jovem Guarda com os meus amigos daquela época. Então lá eu sou Jovem-Guarda. Com o Clube do Balanço e a Orquestra Imperial eu sou sambista. E tenho a minha vida própria onde me mantenho atual.


Você pretende cair na estrada agora? Existe a vontade de fazer ao vivo o repertório do novo disco com alguns convidados

Erasmo Carlos
Show em cima desse disco eu não vou fazer, primeiro porque eu não vou poder contar com a presença dos outros artistas. Claro que algumas músicas estão entrando no repertório dos shows, como Olha que está sendo pedida. Mas fazer um show em cima do "Erasmo Convida", botando, sei lá, os convidados num telão iria ser uma coisa ridícula e oportunista.

E a biografia do Roberto Carlos. Você chegou a ler o livro? Queria comentar algo a respeito?

Eu não li. Aliás não estou lendo nada que fale sobre mim e sobre a época, porque estou escrevendo o meu livro há um ano e meio e devo demorar ainda mais um ano até acabar. Depois disso só é que eu vou ler.

Nem o livro do Pedro Alexandre Sanches você leu? (nota - o jornalista escreveu "Como dois e dois são cinco" analisando a obra musical de Roberto e Erasmo e é o responsável pelo release do novo cd de Erasmo Carlos).

Pô, ele é meu amigo, até me cobra a leitura (risos). Meus filhos até me contam o que os livros contam, mas eu mesmo não li. Mas eu falo muito. Eu dei entrevista pro Nelson Motta pro livro dele "Noites Tropicais", contei histórias minhas, sobre o Tim Maia, do próprio Roberto Carlos... Também falei com o Pedro Alexandre... mas com esse rapaz do livro do Roberto (Paulo Cesar de Araújo) eu não falei. Ele veio uma vez aqui em casa com uma equipe de faculdade para me entrevistar e usou esses depoimentos. Agora falar especificamente para o livro dele eu não falei.


Você costuma dizer que sua amizade com o Roberto dura porque vocês se encontram só para trabalhar e no máximo se telefonam nos aniversários. Bom, o Roberto já te ligou hoje (risos)?Desde o último disco dele vocês já se reuniram para escrever novas músicas?


Hoje em dia tanto você como ele têm uma agenda menos apertada. Como era nos anos 70 conciliar a agenda dele com a sua? Vocês compunham músicas tanto para os discos seus quanto os dele ao mesmo tempo?

Não tinha complicação não, era só marcar o dia e a hora. Separávamos na agenda alguns dias do mês tal e nos encontrávamos. A gente já vinha com as idéias na cabeça, as coisas anotadas e era só desenvolver.

A gente já sabe que vocês foram uma parceria de fato (diferente de Lennon e McCartney que muitas vezes compunham sozinhos mas assinavam em dupla). Queria saber então como essa parceria funciona. Tem alguma coisa que você consiga fazer mais facilmente do que o Roberto e vice-versa?

Pô bicho você quer tirar as coisas do meu livro, aí ninguém vai querer ler ele quando sair (risos).

Vocês costumavam gravar fitas demo das músicas que faziam? Queria saber como funciona o processo que vai do fim da composição até ela aparecer gravada. Você ouve os arranjos antes?

Sim claro, nós temos uma parceria normal, como todas as outras, profissional pra caramba, mas normal, gravamos fitas e fazemos anotações. Com arranjo a gente não se mete. Assim que a composição acaba ela vai pro estúdio e aí cada um sabe o seu caminho. O resultado final mesmo só ouvimos quando o disco sai.

Aliás vocês nunca tiveram a vontade de gravar um disco todo juntos? (e fazer um show nesses moldes?)

Erasmo Carlos
Olha, não sei, não dá, tem coisa de gravadora aí... mas nunca pintou essa idéia. Nós já gravamos uma ou outra música juntos, mas foi isso. E nem é o caso de ter. Eu não sou cantor, sou compositor. Pô eu vou fazer o que no disco dele? O Roberto Carlos canta pra cacete (risos) eu vou é atrapalhar o disco. Nesses discos que eu gravo com outras pessoas, o tom é sempre um problema. Cantar com a Adriana Calcanhotto foi complicado, porque o tom dela é muito alto. O da Paula Toller também. No outro volume foi o mesmo problema pra cantar com a Maria Bethânia.


No seu site você diz que um de seus defeitos é ser centralizador. Como é que você consegue trabalhar tão harmonicamente com o Roberto que também é centralizador por natureza?

Aí eu não me meto com ele e nem ele se mete comigo. A gente chuta a bola, deixa o jogo seguir e depois volta pra casa...


Você acompanha ainda o que seus colegas de geração andam fazendo? Ouviu os mais recentes de Caetano, Bob Dylan ou Paul McCartney?

Eu dou umas ouvidas né? Eu estou olhando aqui para a pilha de discos que eu tenho pra ouvir, se eu for escutar tudo isso eu vou passar o resto da minha vida ouvindo disco (risos). É muita coisa, são as bandas novas que mandam coisas para mim, os discos novos dos meus contemporâneos e tenho ainda que achar tempo para ouvir as músicas que eu gosto né? Mas alguns grupos me chamam a atenção, como o Luxúria, o Cachorro Grande e o Mombojó.

Como é ser empresariado pelo próprio filho?

Eu tenho três filhos: um é baterista, o outro é cantor e o Léo toma conta dos negócios, porque alguém tem que trabalhar né (risos)? Ele cuida da minha editora musical e agora também estamos lançando alguns cds e dvds pelo nosso selo, o "Coqueiro Verde Records".

Entre as músicas suas que mais buscam no Vaga-lume estão "Mulher" e "Sentado à beira do caminho". Fale um pouco sobre essas canções e da importância delas para você.

Mulher (sexo Frágil) é uma música legal pra caramba que eu fiz com a Narinha (a sua então esposa). Ela fez uns versos num desabafo e eu gostei deles, aí eu os desenvolvi e fiz a música. E o Sentado à Beira Do Caminho é o meu maior sucesso. Eu tenho que cantá-la em todos os shows senão o o pessoal fica bravo. E ela vem se revelando como a música mais regravada de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Além de já ter sido tema de três novelas ela entrou em dois filmes estrangeiros: "Big Guns" com o Alain Delon na década de 80 e mais recentemente no "12 Homens e um outro segredo" (onde a música toca na sequência inicial numa versão em italiano feita pelo cantor Ornella Vanoni).

Não acha curioso que uma música com uma letra complicada como essa tenha feito tanto sucesso?

Pô, nego decora música do Lenine (risos), tipo naquela música maravilhosa em que ele fala das musas de todo mundo, Todas Elas Juntas Num Só Ser e não vai decorar Sentado à Beira Do Caminho?

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